sexta-feira, 16 de maio de 2008

"Todos rezam para que não haja novo ciclone"

"Todos oram para que não haja novo ciclone"


PATRÍCIA VIEGAS
Ronald Kuhn, COORDENADOR DA AJUDA DA ADRA A MYANMAR Como está a situação na zona de intervenção da Agência Adventista para o Desenvolvimento e Ajuda Humanitária (ADRA)?

Há muitos deslocados. A situação das pessoas sem comida e sem emprego não é nada fácil. Elas estão em campos de deslocados. Alguns do Governo e outros improvisados pelas próprias pessoas. Talvez agora também das Nações Unidas. A ADRA está a trabalhar na cidade de Labutta [sudoeste]. Estamos a atender 20 mil pessoas neste momento com comida e água.

Os alimentos que estão a fornecer são os que já lá tinham antes do ciclone 'Nargis'?

Nós estamos a comprar lá o que há e a levar de fora, da capital, o que não há e é necessário. Estamos a fazer isso com a ajuda do Programa Alimentar Mundial (PAM). Mas pode ser preciso trazer de fora do país mais coisas.

Quantos funcionários tem a agência em Labutta, uma das cidades com mais mortos?

A Adra, antes do ciclone, tinha 170 trabalhadores locais e dois estrangeiros e agora vai aumentar os funcionários. Isso depende dos projectos que vamos fazer.

Que tipo de projectos estavam a desenvolver nessa zona antes de ter surgido o ciclone?

Antes tínhamos projectos de reconstrução de infra-estruturas, como pontes, captação de água, porque na zona do delta [Irradway] há esse problema. Mas também tínhamos projectos para dar alimentos do PAM. Alguns projectos foram destruídos.

Há notícias que falam na possibilidade de nova tempestade em Myanmar [ex-Birmânia]. Como estão a preparar-se?

É realmente um grande desafio estar a responder a uma emergência e, ao mesmo tempo, lidar com a possibilidade de outra. Os funcionários já estão a trabalhar muitas horas seguidas! Oxalá não ocorram novas chuvas, porque isso seria um grande problema para as pessoas desalojadas. Todos rezam para que não haja um novo ciclone em Myanmar.

Quão fortes são as restrições que a junta militar birmanesa está a impor às agências de ajuda internacionais?

Temos de ser cuidadosos para não misturar ajuda humanitária com política. O Governo tem-nos tratado com respeito. Temos conseguido vistos sem problemas. Temos levado medicamentos sem problemas do aeroporto. Outras agências menos conhecidas do Governo podem ter problemas porque o controlo é talvez mais rigoroso.

Fala-se nos riscos de epidemias. No terreno, já começam a aparecer doenças normalmente associadas a este tipo de catástrofes naturais?

Fala-se nisso. Mas não podemos confirmar. No entanto é natural que nestas condições, sem saneamento, com milhares de pessoas num espaço reduzido, o risco de contaminação é muito mais elevado.

Nenhum comentário: