segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Violência domina Port-au-Prince

por ABEL COELHO DE MORAIS16 Janeiro 2010

Violência domina Port-au-Prince

Pilhagens. Assaltos e roubos estão a tornar-se recorrentes na capital haitiana - visitada hoje por Hillary Clinton

Os Estados Unidos vão colocar no Haiti cerca de dez mil militares até ao início da próxima semana, sinal que Washington teme a deterioração da segurança resultante do "desespero" das populações locais. Aquele "pode transformar-se em violência", advertia ontem o secretário da Defesa, Robert Gates.

Embora Gates considerasse "aceitável" a situação de segurança em Port-au-Prince, avisou que "da rápida distribuição de água e comida" irá depender a estabilidade neste país das Caraíbas.

O Presidente Barack Obama acentuou a possibilidade de deterioração da situação no Haiti, afirmando ontem, na terceira intervenção sobre a crise, que os haitianos "vão viver muitos dias difíceis". Sinal da importância que a Casa Branca concede à situação, Hillary Clinton visita hoje Port-au-Prince.

Inicialmente, os EUA tinham anunciado a deslocação de 2000 marines e 3500 efectivos da 82.ª Divisão Aerotransportada para colaborarem com os cerca de sete mil militares e dois mil polícias da missão da ONU presente no Haiti desde 2004. Todos estes efectivos receberam ordem para se concentrarem na capital numa tentativa de estabilizar a situação.

O reforço americano deixa antever a degradação da situação, o que é confirmado pelos relatos que chegavam da capital haitiana. "Andam a pilhar tudo", dizia um habitante, que descrevia como jovens com machados e catanas se deslocavam à noite entre os destroços, ameaçando os que encontravam pelo caminho, retirando-lhes o que tivessem consigo.

As pilhagens estavam a tornar-se comuns em Port-au-Prince, com os habitantes a tentarem obter alimentos, envolvendo-se depois em rixas pela sua posse. Foram assaltados os armazéns do Programa Alimentar Mundial (PAM), mas a dimensão do roubo teria sido reduzida.

"As pessoas têm fome, têm sede. Estão entregues a si próprias. As coisas estão a tornar-se muito perigosas", dizia um elemento de uma ONG adventista.

Este estado de coisas provoca gestos macabros da população, que estaria a erguer barricadas de cadáveres e entulho como forma de protesto pela lentidão das operações de salvamento e de distribuição de alimentos.

O número de vítimas subia para 40 mil mortos confirmados, situando-se o número final perto dos 100 mil, de acordo com o governo. Os feridos poderão atingir os 250 mil. Mais de 1,5 milhões de pessoas ficaram sem casa. Continuam por encontrar milhares.

"As pessoas não podem cozinhar, não têm água nem gás nem com que cozinhar", explicava um porta-voz do Programa Alimentar Mundial (PAM). Também por isto, as fogueiras são agora uma presença quase constante nas ruas de Port-au-Prince. Os fogos servem para preparar refeições improvisadas e também para queimar cadáveres; durante a noite, são um dos raros pontos de claridade que se descortina na cidade.

As primeiras acções de distribuição de alimentos e água começaram ontem na capital, envolvendo militares americanos e elementos de ONG e do PAM, ao mesmo tempo que a população da cidade se insurgia contra a ausência de qualquer acção dos responsáveis governamentais.

Prosseguem as buscas para encontrar sobreviventes nos escombros, tendo sido retirados ainda algumas pessoas com vida. No que resta dos hospitais, são os próprios familiares que improvisam os cuidados às vítimas.

Pouco se sabe do Governo, só que este se transferiu para um comissariado de polícia junto ao aeroporto. É neste - cuja segurança está a cargo de forças americanas - que se encontra o Presidente René Preval.

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