Se for extraditado, piloto suspeito de ter trabalhado para traficante das Farc corre risco de cumprir prisão perpétua
Bruno Paes Manso e Bruno Tavares
Pierre Delannoy: piloto americano
Acusado de fabricar e distribuir cocaína aos Estados Unidos, o americano Pierre Delannoy, de 62 anos, é apontado como antigo piloto de Boyaco, traficante colombiano associado às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Ele nega as acusações que levaram o governo americano a entrar com pedido de extradição, aprovado em 2005 pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Se extraditado, Delannoy deve cumprir prisão perpétua.
A advogada dele, Lívia Campos Leite, diz que o processo é repleto de irregularidades. "Houve cerceamento de defesa, já que a advogada dele não foi chamada para representá-lo, tarefa que coube a uma defensora pública. Não foi levado em conta que ele tem um filho brasileiro, de 9 anos, e é casado. E o crime de conspiração, pelo qual foi extraditado, não é punível no Brasil." Na cela da Polícia Federal em São Paulo, Delannoy disse ter entrado para a Congregação Adventista do 7º Dia e que quer ficar livre para cuidar do filho.
Você foi piloto da Marinha e atuou na Guerra do Vietnã. O que o levou a entrar para o narcotráfico?
Antes de ir para as Forças Armadas, trafiquei maconha. Em 1964, com 17 anos, fiz meu primeiro voo com um canadense que me deu US$ 10 mil para pegar 500 quilos da droga no México. Foi bem fácil e eu fumava maconha na época. A venda da droga não era mal vista como hoje. Conheci o produtor e passei a ganhar dinheiro com isso.
Como chegou às Forças Armadas?
Sou de Louisiana e comecei a pilotar aviões em fazenda. Em 1968, tinha 4 mil horas de voo e tornei-me instrutor. Dois anos depois, virei piloto da Marinha em um barco naval no Vietnã. A única coisa que fazia era jogar bombas de napalm para queimar selva. Todo dia. Vi que o objetivo da guerra era gastar em armamentos, porque me mandavam queimar três vezes a mesma selva.
Por que veio à América Latina?
Fui preso nos Estados Unidos e vim para a Colômbia. Trabalhei como piloto para os cartéis de Cali e Medellín. Mas não para as Farc. Não levava drogas aos Estados Unidos. Sobrevoava da Colômbia para o Suriname, não há como provar o contrário. Só duas testemunhas me acusam e os depoimentos são frágeis.
Acha que será extraditado?
Promotores e advogados sempre disseram que o risco não existia pela fragilidade de provas. O processo da apreensão de drogas em Itu foi anulado, e no ano passado recebi alvará de soltura. Só estou preso para aguardar a decisão sobre a extradição. Temo que seja mandado aos Estados Unidos para que não precise depor contra os policiais. B.P.M.
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