quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Temo ser mandado aos EUA para não depor contra policiais


Se for extraditado, piloto suspeito de ter trabalhado para traficante das Farc corre risco de cumprir prisão perpétua

Bruno Paes Manso e Bruno Tavares

Entrevista
Pierre Delannoy: piloto americano



Acusado de fabricar e distribuir cocaína aos Estados Unidos, o americano Pierre Delannoy, de 62 anos, é apontado como antigo piloto de Boyaco, traficante colombiano associado às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Ele nega as acusações que levaram o governo americano a entrar com pedido de extradição, aprovado em 2005 pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Se extraditado, Delannoy deve cumprir prisão perpétua.

A advogada dele, Lívia Campos Leite, diz que o processo é repleto de irregularidades. "Houve cerceamento de defesa, já que a advogada dele não foi chamada para representá-lo, tarefa que coube a uma defensora pública. Não foi levado em conta que ele tem um filho brasileiro, de 9 anos, e é casado. E o crime de conspiração, pelo qual foi extraditado, não é punível no Brasil." Na cela da Polícia Federal em São Paulo, Delannoy disse ter entrado para a Congregação Adventista do 7º Dia e que quer ficar livre para cuidar do filho.

Você foi piloto da Marinha e atuou na Guerra do Vietnã. O que o levou a entrar para o narcotráfico?

Antes de ir para as Forças Armadas, trafiquei maconha. Em 1964, com 17 anos, fiz meu primeiro voo com um canadense que me deu US$ 10 mil para pegar 500 quilos da droga no México. Foi bem fácil e eu fumava maconha na época. A venda da droga não era mal vista como hoje. Conheci o produtor e passei a ganhar dinheiro com isso.

Como chegou às Forças Armadas?

Sou de Louisiana e comecei a pilotar aviões em fazenda. Em 1968, tinha 4 mil horas de voo e tornei-me instrutor. Dois anos depois, virei piloto da Marinha em um barco naval no Vietnã. A única coisa que fazia era jogar bombas de napalm para queimar selva. Todo dia. Vi que o objetivo da guerra era gastar em armamentos, porque me mandavam queimar três vezes a mesma selva.

Por que veio à América Latina?

Fui preso nos Estados Unidos e vim para a Colômbia. Trabalhei como piloto para os cartéis de Cali e Medellín. Mas não para as Farc. Não levava drogas aos Estados Unidos. Sobrevoava da Colômbia para o Suriname, não há como provar o contrário. Só duas testemunhas me acusam e os depoimentos são frágeis.

Acha que será extraditado?

Promotores e advogados sempre disseram que o risco não existia pela fragilidade de provas. O processo da apreensão de drogas em Itu foi anulado, e no ano passado recebi alvará de soltura. Só estou preso para aguardar a decisão sobre a extradição. Temo que seja mandado aos Estados Unidos para que não precise depor contra os policiais. B.P.M.

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