sexta-feira, 18 de abril de 2008

Adolescente que matou rival pode ter saído da cidade


 
Após cometer o crime, estudante de 13 anos teria se escondido em um município próximo a Salvador

 
 
Josué Silva

Descobrir a procedência da arma que o adolescente de 13 anos usou para matar o rival Ruan Sérgio da Silva Ferreira, 16 anos, é desafio dos serviços de investigação da Delegacia para o Adolescente Infrator (DAI) e da 3ª Delegacia (Dendezeiros) que apuram o crime, ocorrido anteontem no Bairro Machado. O homicídio teria sido motivado por rivalidade entre as torcidas organizadas Bamor (Esporte Clube Bahia) e Tui (Vitória). A delegada Claudenice Mayo, titular da DAI, acredita que a questão sobre a arma somente será resolvida quando o jovem for apresentado. Especula-se que o adolescente teria saído de Salvador na companhia da mãe.

Já o coordenador do SI da 3ª DP, Élson Lima, crê na possibilidade de o revólver ser mesmo do infrator. Outra questão ainda não resolvida é se o adolescente levou a arma para dentro da escola, no dia do assassinato, ou se teria entregue a um amigo para guardar, do lado de fora, e retomá-la para a execução. Claudenice Mayo espera que a mãe do infrator facilite o trabalho da polícia, apresentando o jovem o mais rápido possível e esclareça todas estas questões. Toda a família – a mãe, o adolescente e uma irmã – teria fugido no mesmo dia em que houve o crime. Especula-se que eles estejam numa cidade próxima. De acordo com a delegada, assim que o jovem se apresentar será levado para a Promotoria da Infância e da Juventude que representará por uma internação provisória na Comunidade de Atendimento Socioeducativo (Case), em Simões Filho. O adolescente terá de cumprir três anos de internação, baseando-se no Estatuto da Criança e do Adolescente. Durante o dia de ontem, a delegada ouviu várias testemunhas, como parentes e colegas dos envolvidos.

O agente Élson Lima explica que há veracidade na informação de que toda a rivalidade ocorreu devido ao futebol. Ruan era adepto da Torcida Uniformizada Imbatíveis, do Vitória, enquanto o infrator estava ligado à Bamor de acordo com informações colhidas pelo agente, os dois jovens tiveram um atrito na semana passada, e Ruan teria ferido na mão o seu futuro algoz com um objeto contundente. Na última sexta-feira, novamente uma confusão devido a torcidas envolveu um primo de Ruan que defendeu o parente contra o rival.

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Sem noção de limites

Instinto assassino, falta de educação familiar, influência de terceiros e outros tantos motivos passaram a fazer parte das especulações dos habitantes de Salvador para tentar explicar o assassinato de Ruan Sérgio, 16 anos, por outro adolescente de apenas 13 anos. Para a psicóloga, Luciana Vilela, da equipe técnica interdisciplinar da 2ª Vara da Infancia e da Juventude, não existe instinto assassino no adolescente e os que cometem infrações graves são aqueles que nunca tiveram a noção de limite.

"Os pais ou responsáveis pelos jovens têm de ter a noção de que o limite, dizer não, faz parte de uma educação saudável em que o jovem sabe que tem de respeitar parâmetros, dentre eles o direito do próximo", disse Vilela. Para a psicóloga, quando o jovem não encontra limite vai em busca dele, mesmo sabendo que poderá sofrer algum tipo de represália. "É isto que, às vezes, acontece com jovens que têm todas as condições de crescer na vida e renegam estes detalhes. Cometem a infração porque querem descobrir até onde podem chegar", explica.

Ela acrescenta que a maioria dos adolescentes infratores que chegam à 2ª Vara vem de classe social baixa, e que não têm nenhuma perspectiva de uma vida melhor no futuro. São jovens que não compartilham mais da companhia dos pais, porque as mulheres tiveram de deixar a casa indo em busca do trabalho, muitas delas mães solteiras, enquanto os filhos vivem próximos à criminalidade e têm toda uma influência equivocada dos meios de comunicação sobre o que seria vencer na vida, na verdade o consumo desenfreado". Apesar de não acreditar em um antídoto contra toda esta situação, Luciana Vilela arrisca como sugestão o investimento maciço em educação. "Precisamos de escolas de verdade e não as de mentirinha", asseverou. (JS)

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