quinta-feira, 3 de abril de 2008

Crateús pede socorro

Cerca de mil pessoas estão desabrigadas na sede e zona rural de Crateús por causa da cheia do rio Poty. Desde o último domingo, equipes da Prefeitura do município, Defesa Civil do Estado e voluntários não param de receber famílias


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02/04/2008 00:08

Com a cheia do rio Poty, muitas localidades do município de Crateús estão debaixo d´água. A situação nos distritos de Crateús é de visível desespero (Foto: Sebastião Bisneto)
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Com a cheia do rio Poty, muitas localidades do município de Crateús estão debaixo d´água. A situação nos distritos de Crateús é de visível desespero (Foto: Sebastião Bisneto)

O miúdo e pálido David Johnny, de 1 ano e três meses, deixou na última quinta-feira uma das UTIs do hospital São Lucas. Segundo Antônia Cira, 20, solteira e mãe do menino franzino e cheio de feridas, ele vinha sendo medicado por causa de uma pneumonia. Saiu na quinta e não passou mais de que três dias na casa de taipa onde morava na Vila do Povo, bairro de 62 anos que foi inundado pela cheia do rio Poty, que margeia Crateús, município da região dos Inhamuns. Ainda com febre e diarréia, ele foi levado às pressas do barraco e está, desde o último domingo, em um dos dez abrigos improvisados pela Prefeitura.

David Johnny, que ontem não parava de choramingar nos braços de Cira, e pelo menos mil desabrigados estão morando sem previsão de despejo em salas de aula de escolas, universidade, quadras de futebol, clube, casas de voluntários, sedes comunitárias e em duas igrejas evangélicas (Adventista e Assembléia de Deus). "Tivemos que montar uma operação de guerra e pedir para que todos ajudassem. Apesar da Prefeitura estar trabalhando 24 horas em função dos socorros, não temos condições de prestar assistência sem apoio do Estado, Governo Federal e população", desabafou Maria Carmem Barros Bezerra, secretária da Ação Social do Município. Ontem à noite, o prefeito José Almir Claudino (PMDB) decretou estado de calamidade pública no município.

A situação, principalmente na periferia e nos distritos de Crateús, é de visível desespero. Na zona urbana e rural, o prefeito suspendeu as aulas para transformar escolas em abrigos e a comida não é suficiente para o crescente número de pessoas que deixam suas casas para não serem levadas pelas águas do rio Poty. "Existe povoado, afastado da sede do município, que está ilhado. Só de leite, pras crianças, estamos gastando R$ 2 mil por dia", desespera-se Maria Carmem.

Mais chuvas
Segundo a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), as próximas 32 horas serão de chuvas intensas para o Sertão Central e Inhamuns. Se chover como nas últimas 24 horas (de 7 horas da segunda-feira às 7 da manhã de ontem foram 65 milímetros), não há perspectiva de mudança no cenário para comunidades ribeirinhas e da zona rural de Crateús.

Segundo Paulo Rômulo, o Paulão, funcionário da Prefeitura, o mês de abril traz boas e más lembranças para os moradores mais velhos de Crateús. "Todo inverno é bom, mas muita água para uma cidade que foi construída na beira do rio Poty é problema. Em 1974, a inundação foi até a calçada da igreja do Senhor do Bomfim, no Centro. Em 2004, também botou pra fora de casa, pobres das áreas de risco e gente de classe média que aparentemente mora longe do Poty. Abril e maio são os meses que mais chovem por aqui", prevê. Ontem, a cheia ainda encobria a casa de taipa de Luiz Uélder Soares, 20, desempregado, que mora com a mãe na Vila do Povo. Ele também é um dos desabrigados instalado no Caic.


Serviço
Doações de alimentos, roupas e medicamentos podem ser feitas na secretaria da Diocese de Crateús. Informações pelos telefones (88) 3692 3330, 8827 7269 e 3692 3319


CONTEÚDO EXTRA
Veja mais fotos de Crateús no
www.opovo.com.br/conteudoextra


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