quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Quatro irmãos mortos em soterramento são enterrados na Grande SP

Cunhado da mãe das crianças disse que prefeitura não cuida da área.
Poder público informou que removeu quatro famílias do local.

Os quatro irmãos mortos em consequência de um deslizamento de terra em Santana do Parnaíba, na Grande São Paulo, foram enterrados na manhã desta quarta-feira (9) no cemitério municipal da cidade. Parentes, vizinhos e amigos acompanharam a cerimônia. Abalada, a mãe das três crianças e um jovem de 20 anos passou mal durante o enterro e teve de ser levada para o hospital. Os irmão foram enterrados juntos, no mesmo túmulo, que comporta quatro caixões.

Os irmãos gêmeos Juliana e Juliano Oliveira Santos, de 7 anos, Gilmara Oliveira Santos, de 9 anos, e João Luiz Gambeta Guimarães, de 20 anos, dormiam juntos num quarto e foram soterrados devido a um deslizamento de terra por volta das 4h50 da terça-feira (8). Eles viviam no bairro 120. A mãe deles e o pai dos três mais novos também dormiam no momento do ocorrido, mas o cômodo onde estavam não foi atingido. Vizinhos da família relataram que o casal ficou desesperado e pediu ajuda para poder socorrer os filhos, mas os corpos só foram localizados com a ajuda dos bombeiros. 

 

Um cunhado da mãe das crianças, o autônomo Carlos Sidney Rodrigues, de 48 anos, que esteve no enterro, reclamou da situação precária da área onde a família mora. Segundo ele, a prefeitura não fazia vistorias no local e nunca alertou os moradores que se tratava de uma área de risco, que poderia ocorrer um deslizamento. "Após o que ocorreu e depois de a imprensa chegar lá, foi que um funcionário da prefeitura foi lá e disse que era uma área de alto risco", afirmou Rodrigues. Ele também reclamou que muitas famílias ainda estão morando na área, com o perigo de novos deslizamentos e não receberam assistência da prefeitura para sair do local.

Procurada pelo G1, a assessoria de imprensa da prefeitura informou que quatro famílias cuja casa corria risco de desabar foram retiradas da área e levadas para ginásios municipais. A assessoria admitiu que a área onde os quatro irmãos morreram não era foco de ações preventivas da prefeitura, pois, segundo a assessoria, nunca havia acontecido nenhum problema desse tipo no local. Ainda segundo o órgão, a área onde as crianças moravam é um terreno municipal que foi invadido há 15 anos. A assessoria disse que o município monitora áreas de risco e que 13 famílias de outros locais já foram retiradas de suas casas e estão abrigadas em ginásios municipais. 

Saudade

O pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia, Marcelo Moreira dos Santos, de 40 anos, que esteve no enterro, contou que as três crianças costumavam frequentar a igreja aos sábados e faziam parte do grupo infantil do local. Segundo o pastor, os pais estão desolados e precisaram tomar sedativos. "Conversei com os pais e disse que a única paz que a gente pode encontrar é Deus. Que Deus possa minimizar o tempo que vai durar esse sofrimento", afirmou.


Vizinhos e parentes que conversaram com o G1 na terça-feira lembraram com carinho dos quatro irmãos. "Eles eram muito felizes. As menores sempre brincavam com minha filha", relatou o ajudante-geral Roberto Gama, de 22 anos, que mora no mesmo local onde ocorreu a tragédia.

 

A tia das vítimas, a prestadora de serviço Neiva Gambetta, de 49 anos, não disfarçava as lágrimas ao falar das crianças. "Elas deixarão muita saudade. Sentimos um vazio dentro de nós". O pai do rapaz morto, o pedreiro Valdomiro Guimarães, 47, falava com carinho de seu filho. "Ele trabalhava comigo, mas morava com a mãe e com o marido dela. Era muito trabalhador".

Revoltado com a morte do filho, pedia por Justiça. "Quero que as autoridades tomem vergonha e arrumem aqui. Os políticos só vêm para cá em época de eleição e depois viram as costas para o povo".

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