terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Um povo que joga lixo na rua

Bueiros com latas, garrafas plásticas, papel, entre outros, mostram que rio-pretense é insensível aos apelos ambientais

Nany Fadil
Agência BOM DIA

O que se encontra nos bueiros de Rio Preto é um demonstrativo de que a população é refratária às demandas ambientais. Enquanto o mundo discute a necessidade de mudanças drásticas para a preservação do planeta, o rio-pretense faz das ruas lixeira particular.

Só nos primeiros dez meses deste ano, a Secretaria de Serviços Gerais retirou 5 mil toneladas de sujeiras dos bueiros de Rio Preto. Encheram 625 caminhões basculantes.

É mais do que o dobro do lixo e detritos retirados durante o ano passado, quando a limpeza recolheu 1,5 mil tonelada.

Segundo Paulo Pauléra, Secretário de Serviços Gerais, o que influencia é a chuva.

"Este ano choveu muito e tudo quanto é lixo que tem nas ruas vai direto para as bocas-de-lobo", diz.

"Tem terra, folhagens, muito papel de panfletagem, garrafas pet, latinhas, restos de comida, cigarro. Já retiramos travesseiro e até três aparelhos de telefones públicos", completa Pauléra.


Enchentes
As bocas-de-lobo são um  retrato fiel da falta de consciência ambiental do rio-pretense e de sua co-responsabilidade, com o poder público, pelas enchentes que acontecem em Rio Preto.

Se estivessem limpos não teria água arrastando carros. Temos galerias para captar a água da chuva.


Vai piorar
Se a população já sofre com a resposta da natureza às suas ações, com o tempo a situação vai se agravar, garante a educadora ambiental Kátia Penteado Casemiro.

Há 20 anos ela estuda o comportamento da população e diz que a pergunta mais recorrente é sempre: Por que, mesmo com tanto conhecimento e informação, o cidadão continua a ter atitudes que ferem o meio ambiente e que resultam em problemas de saúde e queda na qualidade de vida?

"O rio-pretense, como o brasileiro em geral, não tem pelo coletivo um sentimento de pertencimento. O carro dele está limpo, mas para isso joga lixo na rua. Ele pensa, paguei pelo carro, é meu."

Ela explica que o contrário acontece com as ruas.

"A via pública não é vista como algo que pertence a todos. Aos olhos de muitos é terra de ninguém e quem tem de tomar conta é o poder público."


Multa
Na Itália, por exemplo, uma bituquinha de cigarro descartada na rua custa ao infrator 60 euros ou R$ 154. Em Rio Preto, não há leis municipais que punam o cidadão no que tange a lixo jogado nas ruas.

"A solução passa por duas vertentes. A médio e longo prazos é preciso educar a população. Para mudar uma postura as pessoas têm que dar valor e acreditar em algo. A curto prazo é preciso política pública que determine o comportamento das pessoas", defende Kátia.

Quanto ao mau exemplo dado pelos dirigentes mundiais em Copenhage, a educadora lembra que o ser humano não respira dinheiro. "Se acreditarmos nos ideais, nada nos impedirá."


Soldados da ecologia dão exemplo na Vila Toninho
Se dirigentes de todo o mundo não chegaram a um acordo único, em Copenhague, para a preservação do planeta, um grupo de 120 crianças e adolescentes "lutam" por um presente melhor e garantia de futuro, aqui na Vila Toninho, periferia de Rio Preto. Há dois anos que eles são consultores da paz e doutores da ecologia. Também deveriam servir de exemplo aos adultos que emporcalham as ruas.

O projeto, desenvolvido pela Adra no centro comunitário, leva conhecimentos de preservação da natureza e respeito aos animais para as crianças pobres do bairro. Elas, por sua vez, repassam os conceitos aprendidos com a Adra (Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Ambientais) aos familiares e amigos.

"Nós temos que cuidar do meio ambiente, plantar árvores, usar restos de comida como adubo para as plantas, só jogar lixo no lixo", a lição está na ponta da língua de Mateus Ferrari, 10 anos.

Mas não fica só no falar. As crianças mudaram atitudes para viver em harmonia com a natureza.

Mateus pegou algumas vagens e plantou feijões no centro comunitário.

"Daqui uns dias vou dar para a tia [cozinheira do local] fazer comida para nós."

Lá, eles também têm uma horta orgânica de onde saem verduras e legumes para o preparo dos alimentos.

Beatriz Santos Damião, 11, plantou um pé de goiaba, deixou de jogar lixo nas ruas e ensinou o mesmo à mãe.

"Ela não sabia que o lixo polui os rios. Ensinei e ela não joga mais papel no chão."

O garoto Leonardo Roque, 13, deixou de jogar chiclete no chão e, quando algum amigo insiste em sujar as ruas, ele mesmo recolhe o lixo e leva até uma lixeira.

"Expliquei para a minha mãe o quanto um pouco de óleo destrói os rios. Ela aprendeu a fazer sabão e agora não maltrata mais o meio ambiente e ainda economiza. Meu pai deixou de jogar bitucas de cigarro no chão."

Todas as crianças têm lições para ensinar. E insistem em levar o que aprendem para dentro de casa e do convívio social. São soldados da cidadania e da natureza.

Na última semana, cada um dos 120 integrantes, com idades entre 6 e 14 anos, ganhou uma caneca feita de materiais recicláveis da Universidade de São Paulo.

A doação foi feita pela USP Recicla com a orientação para a usarem sempre e abandonarem os copos descartáveis.

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